Durante cinco anos da nossa vida somos bombardeados com as melhores práticas, os mais mediáticos projectos, com as discussões mais pertinentes e actuais, com legislação e ideais. Durante cinco anos adormecemos a sonhar com melhores cidades, melhores mundos, melhores oportunidades, melhores vidas, sentimos a energia a acumular dentro de nós como se um dia fossemos capazes de mudar o mundo. Jorramos sangue sem nunca ficar anémicos e bebemos do mundo das ideias e dos ideais. Saímos de peito aberto, prontos a enfrentar o mundo...preparados. Sim, preparados. Preparados para a maior desilusão da nossa vida, preparados para nos esvairmos em sangue, para que o dia a dia, as mordomias, os vícios, os sistemas instaurados nos retirem toda a energia que ainda resiste, a inspiração que nos alimenta, os sonhos que nos acompanhavam. Dizem que o Sol é fonte de toda a vida e energia, mas é o dia que nos destrói. Traz cruelmente a realidade. Esta realidade instaurada, em que não te deixam trabalhar, não te deixam crescer, não te deixam respirar, mas em que te pedem para contribuíres para a construção de uma sociedade maravilhosa em que casas são hipotecadas por 30 euros e magnatas declaram não ter rendimentos, em que os sem abrigo são criminosos e a malta de colarinho branco é decente, em que o futebol é mais importante que um hino e maltratamos imigrantes, em que pisamos para crescer, empurramos para passar, e maltratamos para viver. De vez em quando paras, respiras fundo, vais buscar aquela energia guardada em recordações e memórias de ideais e atiraste aos animais, lutas até à exaustão, de fora algumas pessoas olham para ti com admiração, uma lágrima no olho como se vissem algo de puro pela primeira vez, como se nunca tivessem visto tamanha ingenuidade, cais, esperas um dia poder levantar-te para dar mais um dia de luta a esta tristeza que nos rodeia, a esta inércia, a esta falta de vontade, falta de liberdade, de garantias, de valores, de moral, de carácter, de espirito, de ... canso-me só de pensar o quão pobre está este país. Fui enganado, fizeram-me acreditar que aqui podíamos praticar livremente ideais, lutar por melhores dias, fazer cidade, paisagem, vivências, espaços, criar sensações e alegrias, mostrar ao mundo o que de melhor se pode fazer...fui enganado...fui enganado, mas não desisti.
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3 comentários:
TT vamos para o Brasil, vendemos as nossas casas, hipotecadas ao Banco e com o que sobrar (não há-de se muito com esta puta de recessão) e construimos uma pousada para chular os FDP que vão de férias para lá!
Abraço,
TB
P.S. - O teu texto está..."PORREIRO PÁ!"
Meus caros Tiagos,
Os meus desejos de uma aberta nessas núvens de desilusão e fatalismo. E quanto ao meu amigo com nome de ponto de partida para a grande saga dos "Descobrimentos", a maior prova do génio nacional e património genético que esta geração não se cansa de reclamar como herança, agradeço que tenha tento na língua que este é um blog sério e de boas familias.
Um abraço
PC
Grande TT,
Quanto a mim tens 3 hipóteses!
1. Entras no esquema. Apesar de tudo nao está mal. É quentinho, dá direito a sofá, casinha, carrinho, uma viagem por ano, sapatos iguais, camisas iguais, uns projectozito cinzentos e se calhar um carrito novo, ou uma viagem nova -sempre ao Brasil, porque o mundo é isso Portugal e Brasil!-.
2. Vais à luta cada dia. Como se faz nos EEUU. Um "gajo" ou é bom todos os dias ou... RUA! Combates! Frontalmente, pelos flancos, pela rectaguarda. Tens que ler tratados militares clássicos, o "Principe" do Maquiavel, o Sun Tzu, ver os grandes generais. E consideras viver nesse país como uma guerra. A guerra civil das ideias. E nas guerras civís os filhos matam os pais e os irmaos. Estás preparado?
3. "Bazas"! Para algum sítio onde seja duro viver e trabalhar, mas que valha a pena. E consideras Portugal, nao como a tua pátria, mas como o país onde nasceste. Todas as relaçoes sao pelo menos bi-unívocas. Se nao sobra um dos intervenientes. Se te sentes mal tratado. Se julgas que sao 30 anos de tratamento miserável. Divorcia-te. As mudanças, no entanto, só devem ser para melhor. Senao sou outra coisa qualquer.
Grande abraço,
GG
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